Crítica | Lilo & Stitch
- Gustavo Pestana
- há 2 dias
- 3 min de leitura
2025 | 1 h 48 min | Ação – Aventura – Comédia – Drama – Família – Fantasia – Ficção científica
[ ATENÇÃO ESTA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS ]
(Walt Disney Studios/Divulgação)
O mais novo live-action da Disney, Lilo & Stitch, traz uma sensação agridoce para quem cresceu com a animação original de 2002. Surpreendentemente cativante, o filme consegue emocionar e encantar com a mesma intensidade do clássico animado, e sim, o Stitch continua absolutamente fofo e carismático. Ainda assim, algumas mudanças no enredo podem causar estranhamento, o que na minha opinião não funciona tanto quanto o original.
Antes de mergulhar nesta análise, vale destacar que o filme está longe de ser ruim. Não se trata de decepção, mas de escolhas criativas que, apesar de compreensíveis, não funcionam tão bem quanto no original, pelo menos do meu ponto de vista. O apego emocional ao clássico inevitavelmente influencia a experiência, dificultando uma separação completa entre o passado e essa nova releitura. Se não houvesse essa comparação direta, com certeza essa versão seria vista como impecável. Mas ela existe, e com ela, vêm as expectativas.
O enredo segue de perto a trama original, sem nenhuma surpresa nesse aspecto. No entanto, o longa se destaca ao aprofundar a relação entre Nani (Sydney Agudong) e Lilo (Maia Kealoha), trazendo uma camada emocional mais intensa e madura. O foco na dinâmica familiar e nas dificuldades que ambas enfrentam para permanecerem juntas é uma das melhores mudanças, e que de fato acrescentam valor à história.
(Walt Disney Studios/Divulgação)
Outro ponto positivo está na introdução de duas novas personagens que fortalecem essa dimensão dramática: Tutu (Amy Hill), a vizinha que apoia Nani na criação de Lilo, e a Sra. Kekoa (Tia Carrere), assistente social que ajuda Nani a manter a guarda de Lilo. Além de serem figuras importantes nesse novo aspecto do roteiro, ambas têm uma conexão direta com a animação original: Amy Hill dava voz a gentil Sra. Hasagawa é uma vendedora de frutas, idosa e às vezes esquecida, que aparece na animação sendo perseguida por Nani que busca conseguir um emprego em sua barraca de frutas, enquanto Tia Carrere foi a voz da própria Nani. Essas participações especiais não apenas agregam valor simbólico, mas também funcionam como um carinho aos fãs antigos (se você assistiu a este filme no áudio original em inglês).
Por outro lado, uma das alterações mais controversas está no papel do antagonista. Na animação, Capitão Gantu representava a grande ameaça; já no live-action, esse posto foi assumido por Jumba. Embora Jumba tenha, de fato, sido um vilão secundário no filme original, a exclusão completa de Gantu muda a dinâmica narrativa. A justificativa parece orçamentária, já que manter um personagem em CGI robusto como Gantu seria custoso demais, fator que se mostrou verdadeiro com Jumba e Pleakley, que passam boa parte do tempo em forma humana.
O problema dessa mudança é que enfraquece o arco de redenção de Jumba, que no original se reconecta com sua criação (Stitch) e se torna parte da família. Esse aspecto emocional, essencial para o desenvolvimento de alguns personagens, simplesmente desaparece. A relação entre Jumba e Pleakley, tão divertida e peculiar na animação, também perde força. Apesar de momentos pontuais de humor, a química entre os dois não se sustenta. Enquanto Billy Magnussen entrega uma versão fiel de Pleakley, a performance de Zach Galifianakis como Jumba não tem o mesmo impacto, seja pela aparência física, pelo roteiro ou pela atuação em si. A conexão com o personagem simplesmente não acontece.
(Walt Disney Studios/Divulgação)
No fim das contas, Lilo & Stitch não falha como filme, pelo contrário. É uma das adaptações live-action mais consistentes da Disney nos últimos anos. Entretanto, a forte ligação afetiva que tenho com a obra original faz com que certas escolhas pareçam mais desnecessárias (e, por vezes, equivocadas) do que realmente são. Para quem não tem uma relação emocional com a animação, a experiência será encantadora. Mas para os fãs de longa data, é inevitável notar o que poderia ter sido e não foi.
Mesmo assim, o longa cumpre bem seu papel. Com uma abordagem visual caprichada, boas atuações e o coração no lugar certo, Lilo & Stitch prova que é possível reformular uma obra relativamente recente de maneira satisfatória, porém a as mudanças do material original fez o filme sofrer, pelo menos para mim.

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