Crítica | Bob Marley: One Love
- Gustavo Pestana
- 12 de fev. de 2024
- 3 min de leitura
2024 | 1 h 47 min | Biografia – Drama – Musical

(Paramount/Divulgação)
Trazendo um pedaço da história da lenda Bob Marley, “Bob Marley: One Love” utiliza uma abordagem meio superficial na história do cantor, escolhendo seguir por um caminho mais “leve” e reflexivo de sua jornada, abordando um lado mais sensível do astro e de sua relação com a família, música e pais, entregando um longa emocionante, mas com alguns problemas, problemas esse que é o mesmo de toda cinebiografia, não conseguir alcançar a grandiosidade da figura homenageada.
Embora fisicamente não se pareça tanto como Bob, Kingsley Ben-Adir entrega uma presença e uma atuação tão profunda na personalidade do cantor que conseguimos claramente ver Bob Marley, tanto que ao final do longa, quando somos apresentados a trechos do próprio cantor em imagens recuperadas, gera uma certa estranheza, de tão grande a conexão que Ben-Adir consegue fazer com o público.
As nuances da personalidade de Bob, juntamente com o andar da história, faz com que tenhamos uma perspectiva diferente da figura forte que tínhamos nos palcos, expondo suas fraquezas e dificuldades emocionais, principalmente em relação a sua esposa Rita (Lashana Lynch), seus filhos, e a Jamaica, deixando claro que a ligação dele com sua religião e a música sempre foi o foco, e tudo o resto sofre por isso, mesmo que ele se esforçasse para sempre estar em sincronia com tudo.

(Paramount/Divulgação)
Lashana Lynch também está excelente no longa, trazendo uma carga dramática muito forte, contracenando com Ben-Adir em sincronia total, trazendo excelentes cenas, deixando tudo ainda mais profundo e sentimental, além de aprofundar o lado mais humano de Bob, e ser através dela que vemos o passado e o início de como tudo começou.
Sua ligação com a Jamaica, religião e drogas, não é tão explorada no longa, principalmente a questão da religião e drogas, onde estes elementos estão no filme, mas não ganham um holofote central como outros pontos, mas os subtextos da história falam bastante sobre estes assuntos, e deixam tudo esclarecido da maneira que tem de ser, então só cabe ao público prestar atenção e entender a palavra de Jah.
O ritmo do longa é muito bom, mas existe uma quebra muito grande que acontece logo após o início do filme, onde somos apresentados a um ritmo muito acelerado devido aos confrontos que estão acontecendo na Jamaica, e todo o primeiro ataque a Bob e sua família, mas que sofre uma queda quando somos apresentados a um novo ritmo, quando Bob vai se refugiar na Europa e gravar seu álbum, fazendo o filme perder a importância e urgência que tínhamos até então.

(Paramount/Divulgação)
Obviamente esta escolha da montagem é proposital, para nós impactarmos em relação ao tamanho e risco do confronto que está acontecendo na Jamaica, mas o longa demora demais a voltar a pegar força, deixando uma parte do filme cansativa e arrastada, embora seja extremamente importante para a história da criação do álbum que talvez, seja o mais importante de sua carreira.
Quando o longa volta a ter um ritmo mais acelerado, muitos elementos são postos de uma vez, e as soluções para que ele volte a Jamaica são um tanto quanto questionáveis, não irei mencionar aqui exatamente o que acontece por questões de spoilers, mas em conversa com outras pessoas, essa parte realmente deixou uma percepção diferente para cada um, podendo diminuir ou não a importância de tudo que aconteceu até o momento.
Mas o grande ponto negativo do longa para mim é seu final, já que desde o início estava sendo direcionado para um grande show, com direito as mensagens positivas de Bob, e os acontecimentos reais, que foram cruciais para o problema político da Jamaica na época, mas que infelizmente não acontece em cena, mas sim em textos e algumas imagens do acontecimento real, fazendo com que o grande clímax fosse a correia e a leve confusão em juntar o meio do filme com a premissa inicial do longa.
Mas mesmo assim o filme traz uma história bonita e uma perspectiva diferenciada da lenda do Reggae, com atuações excelentes em uma narrativa levemente arrastada, mas que tem seu propósito, sem fazer qualquer tipo de apologia a religião ou o uso de drogas, sendo simplesmente um filme que traz uma mensagem de união, assim como Bob fez a vida toda.

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