Crítica | O Esquema Fenício
- Fagner Ferreira
- 29 de mai.
- 2 min de leitura
2025 | 1 h 41 min | Ação – Comédia – Policial – Drama – Suspense
(Universal Pictures/Divulgação)
Quando surge um novo projeto de Wes Anderson, imediatamente vem à mente sua inconfundível assinatura estética. A simetria milimétrica dos enquadramentos, a direção de arte meticulosamente elaborada, repleta de detalhes gráficos personalizados, e sua obsessão por reunir elencos estrelados transformam cada filme em uma verdadeira obra de arte dentro do cinema contemporâneo. Mas será que essa essência visual e narrativa ainda é capaz de encantar o público como antes?
Em O Esquema Fenício, Anderson mergulha em uma trama excêntrica e ousada. O bilionário europeu Zsa-Zsa Korda (Benicio del Toro) vive à margem de ideologias políticas, fazendo alianças com todos os lados (o que naturalmente o coloca em perigo constante). Após sobreviver à sexta tentativa de assassinato, ele decide preparar sua filha, Liesl (Mia Threapleton), para herdar não apenas sua fortuna, mas também um ambicioso projeto de vida. Para isso, pai e filha embarcam em uma jornada global envolvendo empresários, empreiteiros e criminosos, tentando proteger uma ideia engenhosa que os define.
A proposta tem todos os ingredientes para mais um universo singular de Wes Anderson, mas o tom aqui é mais ácido e melancólico. Logo nos primeiros minutos, o filme revela seus temas centrais: luto, ambição familia e a solidão que permeia as conquistas pessoais. A atuação intensa de Benicio del Toro, aliada à boa química com Mia Threapleton e ao desempenho surpreendente de Michael Cera, eleva o material. Ainda assim, o longa flerta perigosamente com o esquecimento, tal como aconteceu com o divisivo Asteroid City.
(Universal Pictures/Divulgação)
O primeiro ato consegue estabelecer personagens cativantes e motivações claras, trazendo o humor peculiar típico do diretor. No entanto, à medida que a trama se desenvolve, a narrativa começa a se desgastar. Anderson parece mais interessado em preservar sua estética visual do que em aprofundar os conflitos dramáticos. E se em Asteroid City o elenco já parecia subutilizado, O Esquema Fenício apenas reforça a ideia de que o foco excessivo no protagonista limita o brilho dos demais atores, algo que vem sendo cada vez mais questionado por críticos e pelo público.
O Esquema Fenício tinha potencial para representar uma virada criativa na carreira de Wes Anderson, mostrando novas formas de contar histórias dentro de seu universo estilizado. Porém, o filme falha em integrar roteiro, estética e elenco com equilíbrio. O resultado é uma obra visualmente encantadora, mas dramaturgicamente frágil, um indício de que o estilo de Anderson pode estar beirando a saturação quando não acompanhado por uma evolução narrativa à altura.
