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Crítica | O Agente Secreto

  • Foto do escritor: Gustavo Pestana
    Gustavo Pestana
  • 14 de nov.
  • 2 min de leitura

2025 | 2 h 38 min | Policial – Drama – Fantasia – Mistério – Suspense 

(Vitrine Filmes/Divulgação)


O diretor Kleber Mendonça Filho, responsável por obras marcantes como Bacurau, Retratos Fantasmas e Aquarius, entrega aqui um verdadeiro espetáculo cinematográfico. Com um roteiro minuciosamente elaborado, O Agente Secreto é repleto de camadas que formam um retrato assustadoramente real de uma época sombria. Mesmo os elementos que inicialmente pareciam destoar encontram seu propósito com o tempo, revelando uma construção tão precisa que cada detalhe, goste-se ou não, serve ao todo de forma brilhante. 

 

Ambientado em Recife durante os anos 1970, o filme nos transporta para o coração da ditadura militar, revelando uma perseguição silenciosa e angustiante justamente por seu realismo. Kleber expõe com sutileza como a vida podia se tornar um pesadelo ao cair no radar de quem detinha o poder, transformando a tensão política em cinema puro. 

 

Os paralelos simbólicos com o clássico Tubarão e com o mito urbano da Perna Cabeluda são alguns dos pontos instigantes da narrativa. À primeira vista, podem parecer desconexos, mas ambos reforçam a crítica central do filme. 

O Agente Secreto (Vitrine Filmes/Divulgação)

(Vitrine Filmes/Divulgação)


Tubarão representa o perigo invisível que ronda a sociedade, tal qual um predador à espreita, e não por acaso, estamos em Recife, cidade também conhecida por seus ataques de tubarão. Já a lenda da Perna Cabeluda evidencia como a mídia pode distorcer ou ocultar verdades, desviando a atenção pública de fatos incômodos em nome do controle e da manipulação. 

 

O desfecho, propositalmente inconclusivo, reforça essa ideia: a ausência de conclusão é, em si, uma mensagem poderosa. Mostra como registros históricos podem ser apagados, como memórias se perdem, e como o poder molda narrativas à sua conveniência. É um final que incomoda (e deve incomodar) por revelar o mecanismo da desinformação e o apagamento da verdade. 

 

A escolha de Wagner Moura como protagonista é simplesmente impecável. Seu carisma e sua entrega transformam o personagem em algo muito além do que estava no papel. Cada gesto, cada pausa e variação de tom reforçam sua complexidade. É difícil imaginar outro ator alcançando o mesmo equilíbrio entre vulnerabilidade e força que Wagner imprime à tela. 

O Agente Secreto (Vitrine Filmes/Divulgação)

(Vitrine Filmes/Divulgação)


Entre os coadjuvantes, Tânia Maria (Sebastiana) brilha com naturalidade impressionante, roubando a cena sempre que aparece, um feito raro diante de Wagner Moura. Seu trabalho é visceral, verdadeiro e encantador. O elenco de apoio também merece destaque: Maria Fernanda Cândido (Elza), Alice Carvalho (Fátima), Robério Diógenes (Euclides) e Hermila Guedes (Cláudia) são só alguns dos nomes que reforçam esse ponto. 

 

Mesmo com sua força artística, O Agente Secreto não é um filme voltado ao grande público. Sua narrativa lenta e contemplativa, aliada às quebras de ritmo e idas e vindas temporais, pode afastar espectadores acostumados a tramas mais diretas. Ainda assim, é uma obra grandiosa, corajosa e necessária, digna de cada prêmio conquistado mundo afora e, com razão, cotada para representar o Brasil no Oscar

 

No fim, o novo filme de Kleber Mendonça Filho reafirma seu talento como diretor, trazendo uma crítica social em arte pura. Ele é uma experiência que exige do público, mas recompensa com algo raro: a sensação de estar diante de um espelho da nossa própria história. 

Nota

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