Crítica | Não Solte!
- Gustavo Pestana
- 9 de nov. de 2024
- 4 min de leitura
2024 | 1 h 41 min | Terror – Suspense
[ ATENÇÃO ESTA CRÍTICA CONTÉM SPOILERS ]
(Paris Filmes/Lionsgate/Divulgação)
Não Solte!, é um terror/suspense psicológico que explora muito bem a linha tênue entre o amor protetor e a paranoia, trazendo questionamentos sobre os limites da superproteção, em meio a um clima tenso, que te deixa desconfortável do início ao fim, explorando a psique dos personagens, sem nunca cravar se as coisas são reais ou não.
Na sinopse temos: Um mal desconhecido toma conta do mundo, e a única proteção para June (Halle Berry) e seus filhos gêmeos Nolan (Percy Daggs IV) e Samuel (Anthony B. Jenkins) é o vínculo de sua família e a segurança de sua casa. Mas quando um dos meninos começa a questionar a veracidade do mal, os laços que os unem começam a se romper.
O filme segue uma premissa muito simples, e por isso é fácil trazer o clima de tensão necessário para a história, existe um mal que toma conta do mundo, e a casa é o único lugar onde ele não consegue penetrar, por isso, é obrigatório sempre estar amarrado a corda, que funciona como uma extensão da casa, e assim mantém a pessoa segura, mesmo que este mal possa aparecer e realizar artimanhas para que você solte a corda.
Essa casa em questão está localizada no meio de uma floresta, e seus recursos são escassos, tanto pela sua localização quanto pelo clima e até mesmo pela dificuldade de exploração territorial, afinal, existe um perigo iminente os cercando e um limite de alcance das cordas que os protegem.
Com essas regras muito bem estabelecidas, somos apresentados ao trio de protagonistas, que praticamente atuam sozinhos no filme, e não estou dizendo no sentido de que roubam a cena e ofuscam os demais, mas sim que praticamente não existem demais personagens, basicamente, todo o desenrolar da história parte deste trio.
(Paris Filmes/Lionsgate/Divulgação)
Eles são June (Halle Berry), Nolan (Percy Daggs IV) e Samuel (Anthony B. Jenkins), que dão um show de atuação. Seus diálogos e interações são muito bons, e trazem todo o clima de medo, e suspense, e em um determinado momento confusão e desespero.
O diretor Alexandre Aja manda muito bem na direção do longa, conseguindo transmitir todas as sensações necessárias para as cenas, além de extrair o máximo de seu elenco, o diretor de fotografia Maxime Alexandre também traz um aspecto sombrio e assustador para o projeto, a floresta, a casa, e toda a estética meio suja e degradada que ajuda demais na ambientação do público.
Uma parte importante do enredo do filme é o questionamento se tudo o que vimos até agora é real ou não, e o personagem que traz esse questionamento para os demais, e para nós que estamos assistindo é Nolan, levantando pontos que realmente fazem sentido, trazendo comparações com as ações de June, nos fazendo questionar o nível de sanidade da personagem, nos sugerindo que é possível que todo esse mal seja somente paranoia, e uma extrapolação de seus medos.
A partir deste momento, o filme começa a ficar desesperador, pois as regras começam a ser quebradas e o “mal” começa a agir, mas a dúvida do que é real ou não permanece, e isso é um grande ponto positivo do filme.
(Paris Filmes/Lionsgate/Divulgação)
Agora falando um pouco sobre spoilers, a coragem de matar a única personagem adulta do longa, e a que mantinha o controle da situação (mesmo que de maneira confusa e não confiável) é loucura, jogando as crianças a mera sorte, e mostrando na forma prática todos os questionamentos sobre realidade e segurança que tínhamos até o momento.
Mas é justamente neste terceiro ato que as coisas começam a se perder e a qualidade do roteiro começa a ficar duvidosa.
Todos os acontecimentos aqui sugerem que todo o mal é real, mas justamente trazer uma resposta afirmativa para praticamente tudo que June dizia que era verdade quebra a magia da história, pois não ter nenhuma explicação para o que é o mal, ou como ele começou e todos aqueles flertes com o passado da personagem que até então podiam ser simplesmente loucura de sua cabeça, começam a fazer falta, além de que a conclusão com uma criança “derrotando” o mal é um tanto quanto forçado, mesmo que a última cena segura que o mal não foi derrotado.
Todo o clima dúbio se perde, e a aparição de pessoas é um tanto quanto conveniente, o terceiro ato se esforça para trazer um clímax empolgante e amedrontador, fazendo com que as crianças lutem tenham de interagir com o mal, mas a alta exposição para o que até então era incerteza perde força, mesmo com o filme tentando manter a incerteza dos acontecimentos.
O filme termina sem te responder se tudo era real ou não, e isso é positivo, mas o clímax é anticlimático, e suas consequências são insatisfatórias caso a resposta para o mal seja loucura dos personagens, fazendo com que, a meu ver, perca pontos de qualidade.

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