Crítica | Entrevista com o Demônio
- Fagner Ferreira
- 4 de jul. de 2024
- 2 min de leitura
2024 | 1 h 33 min | Terror

(Diamond Films/Divulgação)
Quem não se lembra dos anos 90 no Brasil, onde programas de TV, em plena tarde de domingo, faziam de tudo para conquistar o primeiro lugar na audiência? Os comerciais de cerveja que centralizavam as mulheres como objeto para lucrar em cima das rivais.
Em “Entrevista com o Demônio” o mesmo conceito é usado, porém, transvertido em forma de um Talk Show americano comandado por Jack Delroy (David Dastmalchian), um apresentador que aposta tudo no sensacionalismo para conquistar a liderança da audiência com o seu programa Night Owls, desde usar sua mulher (Georgina Haig) com câncer terminal, até ousar na noite de Halloween e trazer, como uma das convidadas, Lilly (Ingrid Torelli) que supostamente tem o demônio em seu corpo.
A direção dos irmãos Cairnes usa o método found footage e cria uma ambientação incisiva dos anos 80, remetendo o público a ser mais um espectador daquele programa que foi veiculado. Conforme o play é acionado, ficamos presos ao processo que vai se desenrolando durante todo o show.
Ansiosos pelo que vira na sequência. O uso dos intervalos mostrando todos os bastidores com os demais componentes da equipe do programa criam uma tensão ainda maior nessa atmosfera já intrigante, que deixa transparecer as preocupações tanto do apresentador quanto o de seu assistente de palco Gus (Rhys Auteri), mediante a tudo que está por vir.

(Diamond Films/Divulgação)
É nessa imersão que vamos conhecendo mais das atrações presentes no palco, como uma clarividente, um cético ou uma tutora psicanalista, que precisa também alcançar patamares maiores, nos deixando vidrados com suas personalidades intrigantes, uma proposta certeira que a narrativa tem alinhada com o enredo, jamais desviando seu foco ou querendo encher o filme com groselha. O terror é um mero artifício para o que está em jogo, a questão é saber qual será a tonalidade completa deste acontecimento.
David Dastmalchian, finalmente, ganha seu merecido destaque ao ser o ator central da trama após diversos trabalhos como coadjuvante. Como Jack Delroy, é fascinante ver o talento do ator dando tons dramáticos ao personagem que personifica exatamente os líderes desses programas de entrevistas.
Cativante e, ao mesmo tempo, receoso com tudo presente e ao vivo, suas facetas dão o choque necessário para seu brilhantismo. Outros destaques da trama estão por conta de Ingrid Torelli, com sua Lilly bastante peculiar, que tenta se aproximar de Linda Blair em “O Exorcista” com menos tempo de presença, e Rhys Auteri como assistente de palco que tem seus momentos cativantes.
Se não fosse pelo seu final engenhoso, com alguns pontos fantasiosos que passam um pouco do tom da história, “Entrevista Com o Demônio” se mostra uma grata surpresa no terror, sem apelar para sustos, assombrações e sons perturbadores. Com uma trama inteligentemente linear, com execução admirável de estar na frente da TV e estar assistindo realmente a um Talk Show.

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