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Crítica | Bugonia

  • Foto do escritor: Fagner Ferreira Seara
    Fagner Ferreira Seara
  • 27 de nov.
  • 2 min de leitura

2025 | 1 h 58 min | Comédia – Policial – Ficção científica

(Universal Pictures/Divulgação) 


Após o insosso Tipos de Gentileza, Yorgos Lanthimos retorna aos cinemas com Bugonia, um mergulho ousado na estranheza humana. É o tipo de trama que divide plateias, e talvez aí resida sua maior força. Misturando horror, humor negro e ficção científica, o diretor transforma uma narrativa de paranoia conspiratória em um espelho desconfortável da nossa própria realidade, conduzindo o público por um terreno emocional instável, onde tudo parece engraçado até deixar de ser e vice-versa.


A premissa é simples, quase absurda: dois homens acreditam que uma poderosa CEO, interpretada por Emma Stone, é uma alienígena disfarçada prestes a destruir a humanidade. Em mãos menos habilidosas, esse ponto de partida soaria ridículo; aqui, torna-se uma ferramenta narrativa afiada, capaz de provocar risos nervosos, tensão crescente e reflexões perturbadoras. 

(Universal Pictures/Divulgação) 

 

O grande trunfo de Bugonia está nas atuações. Emma Stone (novamente cotada ao Oscar) entrega uma performance elástica, oscilando entre vulnerabilidade, ironia e uma ambiguidade inquietante que faz o espectador questionar cada gesto. Jesse Plemons, por sua vez, surge magnético: interpreta o conspiracionista com profundidade, não como caricatura, mas como alguém moldado por traumas, convicções distorcidas e pela necessidade desesperada de encontrar sentido em um mundo indiferente. Sua obsessão por uma ameaça invisível ecoa dilemas muito contemporâneos.


Visualmente, Bugonia é visceral e desconcertante. Lanthimos explora contrastes, o caos claustrofóbico do cativeiro versus a frieza corporativa, criando uma estética que ironiza o próprio desespero humano. A direção de arte reforça a sensação de confinamento dentro de uma lógica doentia, onde alienação e humanidade se confundem como se fossem a mesma coisa. 

(Universal Pictures/Divulgação) 


A obra carrega uma simbologia densa, abordando temas como manipulação, poder corporativo, paranoia digital, trauma, desigualdade e a avalanche de desinformação que molda nossa era dominada por “fake news”. A narrativa evita respostas fáceis; sua ambiguidade moral pode frustrar quem espera um posicionamento direto. Já o humor, por vezes absurdo, cruel e brilhantemente incômodo certamente dividirá interpretações.


No fim, Bugonia fala menos sobre alienígenas e mais sobre nós: nossos medos, submissões, desconfianças e a necessidade quase irracional de abraçar narrativas que nos deem algum senso de ordem. É cinema de autor em estado puro, imperfeito, provocador, inteligente e impossível de ignorar. Não é um filme para todos. 


Mas para quem aceita mergulhar no desconforto, a experiência é poderosa. 


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